A política brasileira, como um todo, ainda enfrenta um grande desafio: a sub-representação das mulheres. Apesar de o eleitorado feminino ser a maioria no país, a presença das mulheres nas candidaturas e nos espaços de poder é injustificavelmente pequena. Para tentar corrigir isso, o sistema eleitoral brasileiro criou as cotas de gênero, obrigando os partidos a destinarem 30% das candidaturas para mulheres. Contudo, essa medida, que à primeira vista parece positiva, tem gerado efeitos colaterais que merecem reflexão.
O problema das candidaturas fictícias
Em um cenário onde os partidos são obrigados a colocar mulheres em suas chapas, sem que haja uma verdadeira motivação ou preparo para tal, o que vemos são muitas candidaturas laranjas. São mulheres registradas apenas para preencher a exigência legal, sem apoio partidário real, sem estrutura de campanha e, muitas vezes, sem sequer o desejo genuíno de ocupar um cargo político. Esse tipo de solução artificial acaba não trazendo os resultados esperados, como uma maior representatividade feminina nas decisões políticas.
A falta de interesse genuíno
O grande impasse da questão não está apenas nas cotas, mas na falta de interesse genuíno das mulheres em se envolver no jogo político. Muitas mulheres não se sentem atraídas pela política, e esse afastamento tem várias causas: o ambiente político ainda é predominantemente masculino, há falta de apoiamento real por parte dos partidos, e a burocracia excessiva do sistema eleitoral torna a disputa ainda mais difícil para quem não tem a estrutura necessária. A imposição de uma cota, sem que haja condições adequadas para a participação efetiva, muitas vezes acaba desestimulando as mulheres ao invés de incentivá-las.
A liberdade como solução
Acredito que a liberdade deve ser a solução para esse impasse. Imposição de cotas não resolve o problema da falta de engajamento; pelo contrário, ela pode criar uma participação forçada, sem a verdadeira vontade de transformação. O foco deve estar em criar um ambiente atrativo e inclusivo, onde as mulheres possam entrar na política quando se sentirem preparadas e motivadas.
É importante lembrar que, com mais liberdade, as mulheres terão a chance de se engajar de maneira autêntica, buscando espaço na política por vontade própria, e não apenas por uma obrigação imposta. Isso não significa que não devemos buscar incentivar a participação feminina, mas sim garantir os meios adequados para que ela aconteça de forma natural.
Incentivos concretos: capacitação, visibilidade e apoio
Para que mais mulheres se envolvam na política, não basta apenas garantir uma vaga nas chapas. Precisamos oferecer incentivos reais, como programas de formação política que preparem as mulheres para enfrentar os desafios do sistema eleitoral, acesso a mais visibilidade e apoio partidário para que sua candidatura não seja apenas simbólica, mas tenha reais chances de vitória.
Além disso, precisamos mostrar exemplos inspiradores de mulheres que transformaram a política, que não apenas ocuparam espaços, mas fizeram a diferença, trazendo ética e honestidade ao jogo político. As mulheres, muitas vezes, são vistas como mais honestas e menos propensas à corrupção, e isso pode ser um grande diferencial no fortalecimento da política nacional.
A mudança está na liberdade e no incentivo
Por fim, a solução para aumentar a participação feminina na política não está em aumentar a cota de gênero para 50%, mas sim em criar um ambiente mais inclusivo, libertar os partidos e as mulheres para participarem no momento e na forma que escolherem, com os incentivos adequados. Isso permitiria um engajamento genuíno e, ao mesmo tempo, garantiria que a política se tornasse mais representativa, ética e eficaz.
A liberdade de participação, somada a incentivos reais e adequados, é a chave para transformar a política brasileira e garantir uma verdadeira representação feminina nos espaços de poder.
Texto de Jailton André de Oliveira
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